terça-feira, 28 de abril de 2009

Miguilitos



A professora Rosa Haruco Tane me enche de alegria com seu e-mail: Zé Maria, Tiago, Daiana e Mariana vêm de Cordisburgo para cá contar histórias neste primeiro domingo de maio. Mundos de saudade de Cordisburgo (obrigada pela expressão, Lourdes). Dá para matar um pouquinho.

Aqui:
03/05, às 18h30
Livraria Espaço Alberico Rodrigues
Pça. Benedito Calixto, 159
Fone: 3064.3920
www.albericorodrigues.com.br
Ingresso: R$ 10/R$ 5 (estudantes)


Foto: Daiana conta histórias em sua própria casa e a irmã, Mariana, no quintal da antiga casa de João Guimarães Rosa, em Cordisburgo.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Reina Sofia


E no pátio com chão de borracha sei lá das quantas havia uma menina. Que olhava uma borboleta laranja colada no chão e dizia, baixinho: "Levanta...". Notou que talvez ela não levantasse por causa de seu tom de voz. Com mais afinco: "Levanta!".
A professora se aproxima e explica que a borboleta, So-sô, a borboleta morreu.
Tem gente aqui?
A outra menina senta ao lado, pergunta alguma bobagem do tipo "como você chama?", se arrepende na hora e imita a menina para tentar vê o que ela vê.
Não, não tem gente.
Só tem cheirinho de lavanda Johnson & Johnson.
E a única borboleta que desejou ser lagarto.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

By Jé


"Você vai virar uma receita."

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Síndrome Poppy


Foi ontem. A cabeça doía mesmo depois do remédio, o que me fez ter a penosa certeza: sim, é uma enxaqueca. Cheguei de Tatuí feliz com minhas botinas, almoçamos no velho restaurante do bairro e a dorzinha continuava lá, tímida mas tremendamente espaçosa, presente, à espreita de uma oportunidade para avançar com seu bando como avançam os pássaros em Serra Negra. Deitei um instante e nada, aí concluí qual seria o desfecho. Quer saber? Eu vou ao cinema. Simplesmente Feliz. Claro que a ideia não foi das melhores, o que ficou claro nos últimos dez minutos de filme (o que ficou mais claro após a noite em claro). Mas o esforço para me manter sentada em frente àquela gigantesca tela luminosa e barulhenta com a cabeça brincando de gangorra valeu cada aguda pontada.

Hoje me imaginei batendo um papo com a Poppy. E aí, Poppy, tudo bom? "Você é brasileira? O que é mais legal de ser brasileira?", ela perguntaria, e com certeza diria que o Rio de Janeiro é uma beleza, mas saberia do poder das espelunquinhas muy blancas y muy graciosas lá do norte. Poppy, você nasceu em Londres? "Uau, o céu da sua cidade é meio cor-de-rosa!". É poluição, Poppy, sujeira, sabe? "Dá pra andar de bicicleta nessa avenidona ao lado do rio?". Por quê você ama tanto aquela bota? "Hmm, de qual bota você tá falando?". Você nunca mais encontrou o Scott? Ela esboçaria um sorriso, os olhos brilhando, o cabelo enroscando nas argolas vermelhas.

Hoje, quando tentava justificar que parecia bem-humorada mas que na verdade estava um pouco intolerante, ouvi: "Você está muito engraçada! Desculpa, mas sua irritação não convenceu". De agora em diante, quando for incompreendida, vou alegar que é a Síndrome Poppy.

terça-feira, 7 de abril de 2009

Os Seus, os Meus e os Nossos


"Muito amor, um pouco de disciplina e um marido que não me critica" - resposta de Helen (Lucille Ball), mãe de 19 filhos (9 dela, 10 do marido) à pergunta: Como você consegue?

"O amor, minha filha? Amor não é ir ao motel. É ir ao dentista, ao sapateiro...Não é comer rosbife, é carninha moída" - definição de Frank (Henry Fonda).

Frank e Helen estão no sensacional Os Seus, os Meus e os Nossos (1968), filme de Melville Shavelson baseado no livro Who Gets the Drumsticks?, de Helen Beardsley.

*Os vídeos que estavam aqui estranhamente foram retirados do YouTube

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Virginia He-Man


Em 1920, o romancista Arnold Bennett publicou uma coleção de ensaios entitulada Our Women: Chapters on the Sexdisrvord. Virginia Woolf, que estava escrevendo O Quarto de Jacob, acabou entrando em conflito com Desmond MacCarthy (ou Falcão Afável), que publicou uma resenha escandalosamente machista do livro de Bennett na revista New Statesman.

Trecho da resenha do Falcão Afável:

"(...) Para ele é difícil dizer, embora ele diga, que as mulheres são inferiores aos homens em capacidade intelectual, especialmente no tipo descrita como criativa. Certamente, este fato é evidente a qualquer pessoa, e o Sr. Bennett admite que 'nem educação nem liberdade, em qualquer grau, alterarão sensivelmente este fato.' A literatura mundial mostra ao menos cinquenta poetas maiores que qualquer poetisa. (Sim; a menos que você, como Samuel Butler, acredite que uma mulher escreveu a Odisséia) (...) Embora seja verdade que uma pequena porcentagem das mulheres seja tão inteligente quanto os homens inteligentes, o intelecto é uma especialidade masculina. Algumas mulheres, indubitavelmente, são muito inteligentes, mas em menor grau que Shakespeare, Newton, Michelângelo, Beethoven, Tolstoy. A capacidade intelectual média das mulheres também parece significativamente menor. Se o intelecto de um homem inteligente, mas não especialmente inteligente, fosse transferido para uma mulher, ela se tornaria imediatamente uma mulher muito inteligente."

Virginia Woolf endereça uma carta feroz à New Statesman:

"(...) Como, então, o Falcão Afável explica o fato que me parece evidente, e eu pensaria que a qualquer outro observador imparcial, de que o século dezessete produziu mais mulheres notáveis que o século dezesseis, e o dezoito mais que o dezessete, e o dezenove mais que os três anteriores juntos? (...) Embora as mulheres tenham todas as razões para esperar que o intelecto dos homens esteja diminuíndo, seria pouco inteligente anunciar isto como fato, ao menos até que se tenham evidências maiores que a Grande Guerra e a possibilidade de paz. Em conclusão, se o Falcão Afável deseja sinceramente descobrir uma grande poetisa, por que se permite ser iludido com uma possível autoria feminina para Odisséia? Naturalmente, tenho a pretensão de conhecer a cultura grega tanto quanto o Sr. Bennett ou o Falcão Afável, mas me disseram que Safo era uma mulher, e que Plutão e Aristóteles a colocavam, junto com Homero e Arquíloco, entre as maiores poetas de seu tempo. Que o Sr. Bennett possa nomear cinquenta homens indiscutivelmente superiores a ela é uma surpresa bem-vinda, e se ele publicar seus nomes eu prometo, como ato de submissão que é tão caro ao meu sexo, não apenas comprar todas as suas obras mas, tanto quanto minhas capacidades permitam, aprendê-las de cor."

Onze anos depois, Virginia disse o seguinte em discurso para a National Society for Women's Service sobre sua trajetória de vida:

"(...) Artigos devem falar sobre algo. O meu, pelo que me lembro, era sobre o romance de um homem famoso. E enquanto estava escrevendo essa resenha, descobri que se fosse resenhar livros precisaria travar uma batalha com um certo fantasma. E o fantasma era uma mulher, e quando vim a conhecê-la melhor eu comecei a chamá-la como a heroína de um famoso poema, The Angel in the House (O Anjo da Casa). Eu vou descrevê-la da forma mais sucinta possível. Ela era intensamente compassiva. Era imensamente encantadora. Era profundamente abnegada. Ela dominava todas as difíceis artes da vida familiar. Sacrificava-se diariamente. Se havia galinha, ela ficava com o pé; se havia uma corrente de ar, tomava seu lugar nela. Resumindo, ela era tão condescendente que nunca tinha uma ideia ou desejo próprio. Em vez disso, preferia concordar sempre com as ideias e os desejos dos outros. Acima de tudo – nem preciso dizer – era pura. A pureza era considerada sua maior beleza. O rubor de suas faces, sua graça maior. Naqueles dias (os últimos da Rainha Vitória) cada casa tinha seu anjo. E quando vim a escrever encontrei com ela bem nas primeiras palavras (...) Eu me voltei contra ela e agarrei-a pelo pescoço. Fiz o possível para matá-la. Minha alegação, se fosse levada a julgamento, seria a de que agi em legítima defesa. Se eu não a tivesse matado, ela teria me matado."

Tudo isso no precioso livrinho Kew Gardens, O Status Intelectual da Mulher, Um Toque Feminino na Ficção, Profissões Para Mulheres, traduzido por Patrícia de Freitas Camargo e José Arlindo F. de Castro

Foto: Virginia Woolf. Crédito: Associated Press

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Forma, movimento, ritmo, ritmo, forma, movimento


Lembra o tempo
em que você sentia

e sentir
era a forma
mais sábia de saber

E você nem sabia?

Poema de Alice Ruiz. Outros acá: http://aliceruiz.com.br/