terça-feira, 20 de abril de 2010

viagem


Eu viajei e
deixei uma casa com
cortinas e tapetes flutuantes
atrás

eu viajei e vi
as mesmas coisas
as pessoas
as mesmas
gelatinas espessas entre eu e elas
vi espetáculos da natureza
a paisagem sonho
e dedos trêmulos na fotografia

vi bem perto a lava vulcânica
lamber meus pés
no pico da montanha mais fria o sorvete
aquecendo meu nariz
perdi de bobagem
o clique mágico da eternidade
um cisco no foco da câmera
abriu uma cratera em meu crânio
e caí no deserto

vi homens de quatro
lixando o chão com a língua para os chefes
olhos esmagados fora dentro ovos estrelados
num céu jamais visitado
vi um coração humano
despejado no lixo
entre pacotes de sopa vidros de remédio talões de cheque
um livro queimado e rasgado
cheio de palavras que amei
quando vivia

Silêncio
A igreja é uma nave
Sou um filhote de pássaro
entrando no ventre da mãe

Ninguém vê fico na praça bebendo
Ninguém vê agora a igreja sem missa
A Virgem miolos amolecidos pela auréola

A cabeça não pensa mais
Só nuvens

Borboletas saem do ventre da santa
carregam o corpo

Vão embora
Só eu pensando

- Pra onde?

*Viagem, de Marília Kubota

Um comentário:

Anônimo disse...

sé minha!