terça-feira, 22 de junho de 2010

minha crônica preferida da copa

"Confesso: é um desvio pieguístico, típico de quem cresceu vendo telenovelas de Janete Clair.
Sempre que chega nessa fase da Copa, perco meu tempo imaginando o destino dos derrotados.
Tenho dó.
É verdade. Depois de duas taças de vinho B na Mercearia, essa sensação aumenta – quase choro pelos despossuídos que aparecem sistematicamente numa das três TVs das paredes com o som desligado.
Será que aqueles treinadores que chegaram à África do Sul vendendo autoconfiança tinham um plano B?
Será que o Parreira terá alguém da federação sul-africana para levá-lo até o aeroporto? Ou deverá sair do hotel, ir até a rua, checar quantos rands sobraram no bolso e acenar para um malinês de praça?
E Domenech, com seu ar de professor da École de France, terá alguém para buscá-lo no aeroporto Charles de Gaulle?
Será que o Anelka, quando desembarcou em Paris, passou por um túnel que estava pichado com a inscrição VA TE FAIRE ENCULER?
E Jong Tae-se, o atacante chorão da Coreia do Norte, que joga na J-League, após levar de 7 de Portugal e ser eliminado: será que ele prosseguirá no futebol ou o “governo do Povo” coreano vai mandá-lo para uma fábrica?
E David Villa, que pode ter jogado fora a chance da Espanha naquele pênalti perdido contra Honduras? Quando será que ele terá novamente a serenidade necessária para ir até aquele bistrô de Chueca?
Quando o goleiro Green, da Inglaterra, devorador do primeiro frango da Copa, terá coragem de sair de seu apartamento para passear pelo Soho de novo?
E o camaronês Samuel Eto’o? Quando sairá da situação de abatimento e voltará a brigar com torcedores racistas nas ramblas de Barcelona?
E Shabalala, o autor do primeiro gol da Copa, conseguirá assegurar um bom contrato assim que voltar para casa?
É claro, também penso nos que sairão cheios de honra, já garantiram a reputação.
O lateral suíço Tranquillo Barnetta, por exemplo. Eu o imagino lançando uma linha de camisetas com seu nome num shopping de Zurique, dando autógrafos na rua, estudando propostas do futebol turco.
E me parece claro que Dennis Rommedahl e seus colegas da Dinamarca certamente serão recebidos com um jantar especial pelo chef René Redzepi, no Noma, recém-eleito o melhor restaurante do mundo, em Copenhague, e os invejo. Malditos vikings sortudos!"

Táxi!, do Jota, aqui.

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