terça-feira, 23 de novembro de 2010

são as águas de lindoia


O recepcionista reconheceu o sobrenome. "seu avô já não ficou hospedado aqui?". sim, meu avô, josé. não pareceu reconhecer o nome. giuseppe, talvez? "sim!"
engraçado como algumas lembranças se cristalizam na gente como se não passássemos todos de um monte de açúcar na panela, derretendo até virar caramelo
não via muito mais meu nonno nos últimos anos, mas penso nele com uma frequência e lembro de alguns detalhes tão pequenos
sinto uma saudade que não dói, e me pergunto se algum dia ouvirei de novo o seu "djova", verei de novo o olhar do meu pai aconchegado pela segurança de ser incondicionalmente amado por alguém
estou há dias cercada de velhinhos o tempo todo e eles me parecem um bocado cansados, com seus banhos tomados e óculos escuros
hoje um senhor ficou parado na frente do hotel, olhando para a praça como se estivesse olhando para o fundo de uma garrafa de vidro
quando será que perdemos a alegria e nos concentramos só em amarrar os sapatos?
a alegria do nonno só foi aspirada no fim e, mesmo assim - isso não me sai da cabeça - minutos antes de morrer ele pediu a uma das filhas:
me traz um chocolate?

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