segunda-feira, 8 de novembro de 2010

o almoço de segunda


"Será que agora o calor veio para ficar?", eu pensei alto, o vento quente batendo no rosto. O taxista respondeu um "não sei" seco. Na hora de pagar a corrida de R$ 5,90, tirei a nota de R$ 50 e ele a recusou. "Você não tem trocado?". Não tenho, mas o senhor, que é motorista de táxi, deveria ter, certo? Sacou o maço de notas do bolso: "Eu tenho, mas não quero te dar". Surpreendentemente calma, eu sugeri: "Sem problemas, eu desço até o restaurante e troco". Ele encerrou a história com um enxotamento verbal: "Não, não vou te esperar trocar. Desce do carro, não quero esses seis reais". Ainda insisti: "Mas, espera, qual o nome do senhor? Posso levar o dinheiro no seu ponto e...". Nessa hora eu já estava fora do carro, pensando no tanto de coisas que eu poderia dizer, mas só consegui mirá-lo de soslaio e expressar: "Meu deus, leve a vida mais leve...". Ele finalizou: "Por que você não traz uma nota de 100 da próxima vez?".
Entrei no bistrô me sentindo a banana da xepa. Fui ao banheiro, senti uma dor na bexiga e minha cabeça tentava entender o que tinha acontecido, por que, o que eu deveria ter falado para aquele homem, eu agi certo? Olhei meu rosto cansado e suado no espelho e retoquei a maquiagem: posso ficar nessa energia ruim, ou posso seguir. Eu quero seguir. Antigamente tremia por dentro e corava por fora nessas horas, hoje parece que sou transportada para um espaço zen.
Saí do banheiro e, esperando meu colega de almoço chegar, parei em frente a uma lousa e meio por inércia comecei a ler o texto que tinham escrito ali. Era mais ou menos assim: "Todas as manhãs, um homem era maltratado pelos funcionários da padaria do bairro. Em vez de se enfurecer, dirigia-se a todos com uma educação de lorde e distribuía sorrisos. Um dia, um amigo questionou sua atitude e ele explicou: 'eu não vou deixar que eles decidam meu estado de espírito".

Foto: Ellen von Unwerth

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