quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Chillout


Um dia, nesse fim de ano, eu fiz aquela habitual e automática perguntinha pra Pó: "Você promete?". Ela me surpreendeu ao mandar essa, em vez da habitual resposta sim, prometo: "Não, não prometo. Mas eu acredito muito".
Me lembrei dessa conversa por dias a fio.
E de repente percebi que parei de fazer promessas a mim mesma e às pessoas.
Tirei do jogo a Promessa e a substituí por uma jogadora mais preparada, a Confiança.
Promessa e Confiança não jogam no mesmo time, é preciso abrir mão de uma para ter a outra.
Quando você promete é como se construísse um muro que não te deixa ver o que tem ali mais à frente, pois você já determinou que sua casa vai ser nesse lugar e desse tamanho. Se fecha para o mais lindo, que é a surpresa, que é o chalé azul na frente da praia dorminhoca, e eu não posso desejar nada mais que isso para 2013, e é pra lá que eu vou.


Foto: Eu, Abacaxi e Jovelina estamos aqui para desejar a vocês em 2013... o astral dessa foto!



domingo, 23 de dezembro de 2012

Diálogo de sábado


- Você acha que uma hora vem a resposta?
- Nós já não pedimos? Aspargos com ovos e huevo-loco-blablablá.
(...)
- O que? Não, não isso...
Eu falava de vida, ele falava de estômago. Mas eu penso, foi uma engenhosa confusão, pois ele acabou respondendo a questão: nós já pedimos.


foto: Jovelina, por Giuliana Vallone

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

E-mail de pai


Assunto: Ainda bem...

Que o mundo não acabou...Eba eba eba!!!




terça-feira, 18 de dezembro de 2012

pipoca


Neste instante a vida só faz sentido por causa da cor dos olhos da menina filha da faxineira da livraria
E o executivo grita ao telefone: a princípio não, indiretamente sim


foto: Jota

recortes


Puxa, adorei isso! Tem muito mais aqui.


Me lembrou um hábito que eu tinha quando criança: inventar histórias a partir de recortes de revistas. Era um prazer da mesma árvore do prazer que era tomar sorvete de groselha, só que diferente.
Não me lembro de fazer esforço para pensar nas histórias, de haver um trabalho mental exaustivo, era mais uma esguichada de sentimentos e ideias.
Foi um hábito derivado das charges do Cebolinha que a professora do pré-primário colava no caderno, tínhamos que dar continuidade a elas. Eu sempre me empolgava e escrevia além da conta,  até a última linha da página, a letra ficando miudinha pra fazer caber, e às vezes sendo preciso até remendar papel com grampeador pra poder contar o fim.
Teve uma vez, desconfio que seja uma memória fresca mais por conta da quantidade de vezes que minha mãe já me contou esse caso do que pela real importância do caso, mas teve uma vez que eu tava na casa da tia Célia, era época de Natal. Recortei uma árvore de Natal de alguma revista e escrevi um conto de Natal.
Minha mãe ficou particularmente impressionada porque eu tinha acabado de ser alfabetizada, e fiz isso de maneira espontânea num dia preguiçoso. Coisa de mãe.
Se eu procurar bem, ainda acho esse conto.
Porque a gigante mala jeans com Legos, que delícia que era abri-la, não temos mais como achar. A tia Célia comentou anteontem: por onde andará a mala jeans?



segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Vendo juntas


Da série grandes sintonias. O post "Sexta-feira, 14" ainda estava pelando quando a amiga Tata me mandou este, publicado quase simultaneamente (visto que meu post deveria ter sido publicado na sexta passada). Começa do mesmo jeito que o meu, "hoje eu vi...". Ela me escreveu:
"Vc viu esse post? Porque eu acabo de ler o seu agora e achei uma fofura independente de como aconteceu, se foi coincidência eu vou achar ainda mais legal. Fiquei feliz, conexão linda"
O post é o "Hoje eu vi", do Rascunho de passarinho, blog novo e imperdível na área, que aproveito para recomendar aqui. Só posso justificar assim: você vai querer ler os rascunhos de uma passarinha que vê bebês vestidos de bala de morango e acha sorveterias com sabor de leite materno.
A Tata autorizou, reproduzo o post aqui:

Hoje eu vi…
Por Thaís Caramico
Comprei um bloquinho pra escrever todos os dias o que eu via pelas ruas. Foi logo que cheguei na cidade e a brincadeira durou pouco mais de dois meses. Não é que encontrei o dito cujo depois de desmontar a casa?
Hoje eu vi…
Um relógio no céu / Guarda com um urso na cabeça / Patos na lagoa / Sorveteria que vende sabor leite materno / Dois casais dos anos 1920 / Feijão com molho de tomate / Vitrine de suspiros gigantes / Um homem dirigindo um triciclo / Uma ponte metálica que balança / Teatro com o nome de Shakespeare / Festival de marmitas / Pessoas sacando dinheiro na rua / Cinco tabloides diferentes / Miniatura da rainha, de dar corda / Labirinto com oásis no centro / Velhinhos jogando bocha no jardim / Navio que trazia chá da China / Churrasco no parque / Pessoas com travesseiros no churrasco / Esquilo fugindo do cachorro / Uma pequena Veneza / Mágicos nas ruas / Feira sem pastel e caldo de cana / O maior órgão do mundo / Protesto de dois mil ciclistas / Cenoura pra comer com homos / Uma família inteira de punks / Barraca de amendoim doce / Um cara igual ao Oil Man / Um disco antigo do Kinks / Mark E. Smith em carne e osso / Leite de coco no curry / Patinezada / Chá verde com ginseng doce / Bolo de gengibre / Roupa por quilo / Linha que divide o mundo em dois hemisférios / Gente educada no metrô e empurra-empurra pra entrar no avião / O futuro / Bebê vestido de bala de morango.

Sexta-feira, 14



Hoje eu vi...

Uma Barbie very hot deixada em cima de extintores de incêndio em uma borracharia

Um alfaiate usando uma pulseira de tomate, daqueles tomates de tecido picados por agulhas

No alfaiate, um velhinho escolhendo o tom de bege de sua nova camisa

e um homem andando de suspensório e sem camisa, com a barrigona saliente.

Uma menina cheirando sabonete de pitanga.

Na loja de cacarecos natalinos, uma mulher dizendo "eu adoro esses Papais Noéis que dançam. Quanto mais maluco, melhor"

Uma velhinha com problema de audição que escutou R$ 49 em vez e R$ 79, e quando recebeu R$ 20 de troco e reclamou, o vendedor japonês agiu com rara cordialidade: "Ah, a senhora entendeu R$ 49? Puxa, me desculpe".

Um casal de velhinhos este da foto, e eu enganei a todos e fotografei de um ângulo como se estivessem caminhando juntos. Na verdade ele está ligeiramente atrás dela, apoiando-se nela como se apoiam no farol os cegos em seus guias. É como naquela frase do Richard Avedon que a gente leu na exposição no Metropolitan de Nova York, "no instante em que você pega a câmera você já começa a mentir - ou a dizer sua própria verdade".

Um jovem senhor fazendo a barba na barbearia do Empanadas, ao meio-dia. Quem faz a barba num dia quente como esse?

...

Eu gosto muito desse clima malemolente de Natal, quando o mundo está se movendo em uma câmera lenta legal.
Isto é, se você também desacelera.
É bom sair a pé com uma desculpa qualquer, "vou mandar ajustar as saias"
E depois eu caminho, às vezes me arrependo porque caminho demais e a volta vai ser quente e longa; às vezes compro bugigangas muito úteis, como a toalha de mesa de abobrinha e berinjela que me custou R$ 10; às vezes paro para comer uma esfiha e céus como está fria.
É sempre bom.
Tenho feito isso em muitas manhãs de dezembro e estou considerando esse o meu maior presente de Natal.

Teve um dia em que dispensei o táxi até a casa da minha avó e fui a pé da Vila Madalena até o Jardim Europa. Passei pela praça que agora vou chamar de Praça dos Pug e que surpresa encontrar ali o seu Mariano, o sorveteiro da minha infância.
"Casou, teve filhos? E o menino, casou?". Fiquei sabendo que o Seu Mariano vende sorvetes há 39 anos; que a praça da vovó, a Morungaba, já não tem mais crianças por isso ficar lá não compensa; e tomei um picolé de coco.

Sei também que, além de fazer esse trajeto mais vezes, não vou mais ir a outro costureiro que não seja o seu Brumatti.
Com as sobras da saia longa branca, ele vai fazer uma borboleta pra eu pendurar no cabelo.
Eu pedi. Ele silenciou e disse: "eu faço, mas só depois do Natal. Primeiro, os ajustes".
Justo, primeiro os ajustes, depois as borboletas.

Há quanto tempo será que o seu Brumatti trabalha na Teodoro Sampaio? Será que depois de um tempo os lugares começam a se adequar a seus inquilinos, e não o contrário? A vista que se tem a partir da janela de seu Brumatti é a de um emaranhando de fios de eletricidade tão bem-alinhavados que a sensação é a de que o ateliê de costura está mais lá fora que lá dentro.


Trilha sonora desse post: Los caminos de la vida, Los Diablitos


quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

da Lucinha e da Soninha


Sete tentativas depois, ele saiu. O bolo fofinho de banana, sabor que eu procurei insone fôrma atrás de fôrma durante dez dias. Conforme eu misturava os ingredientes, o cheiro da massa de banana ia alegremente me torturando e eu pensava "esse vai, impossível não dar certo, com esse cheiro...". O que acontecia: a massa pesava, parecia que nem tinha farinha ali, que era só banana.
Tentei duas vezes no domingo, depois mais uma no dia do aniversário dele (essa falha foi a mais dolorida, cantar parabéns com as velinhas em cima de petit gateau de restaurante, por deus).
Dei um tempo, li muitas receitas na internet, pedi ajuda para a fada madrinha da cozinha Márcia.
Fiz bolo de coco, de chocolate e de fubá.
Acalmei? Não. Eu estava obcecada demais pelas bananas para desistir delas.
Fiz mais um. Erro. Mais dois no fim de semana, para os cunhados, imagina se eu falho? Falhei.
E aí eu tive uma ideia muito da genial, só que com uma semana de atraso, de ligar pra bendita boleira da minha infância. Soninha, a cozinheira do sítio da tia Carlota, em Tatuí.
O bolo da Soninha nem chegava à sala, acabava mesmo na cozinha, a gente entrava e ia pegando os pedaços direto do tabuleiro, um seguido do outro. Cada criança devia comer, por cima, uns quatro. Achei que a Soninha não ia saber precisar as medidas, mas qual foi, não só sabia dizer como deu dicas preciosas do tipo "você mede o óleo no copo de requeijão, o açúcar num copo um pouco menor, pro bolo não ficar muito doce" e "mistura bem os líquidos com a farinha e o açúcar, eu bato na mão mas se for preciso usa a batedeira".
Bananas compradas no sacolão, sétima tentativa. Em meu rústico entendimento considerei um bom sinal a massa ter ficado mais melecada, como se de bolinho de chuva. Arrisquei e coloquei umas rodelinhas de banana por cima de tudo. Não tive medo de não dar certo. Afinal, após seis receitas malogradas, o erro perde peso de jaca e ganha peso de amora.
Um bom presságio foi também minha gata bebê Jovelina ter se postado em frente ao fogão e permanecido ali de butuca por alguns minutos. Ela não fez isso com os outros bolos!
Quando enfiei o garfo e vi que o bolo tinha ficado fofinho...foi como ter cruzado a linha de chegada após uma longa maratona.
Descobri ainda que a receita na verdade fora passada para a Soninha pela Lucinha, outra cozinheira maravilhosa da família. Lucinha, uma Jovelina Pérola Negra, me chamava de "calabresa" porque achava que eu era a típica italianinha, ou algo assim. Sorria espremendo os olhos e era um sorriso que confortava a gente. Pensando bem ela é que era uma calabresa, começava as frases com a boca mas sempre as terminava com as mãos!
Ainda não sei direito de onde vem a raiz dessa alegria que eu sinto quando faço bolos, mas sei que como o trigo que hidratei essa semana, está germinando além do meu controle.

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

moça ou senhora


Hoje na casa de câmbio A maior rede de casa de câmbio do país, "porque confiança é uma moeda que nunca desvaloriza no mercado", eu era a primeira da fila. O rapaz do outro lado do vidro me olhou e disse "espera aí que já vão te chamar". Quando a luz piscou com o número do caixa 4, me dirigi a ele, sentei e esperei meus R$ 190 concentrada no peculiar corte de cabelo do atendente, uma coisa assim Justin Bieber da Paraíba. Enquanto isso, o tempo todo uma senhora jovem usando um vestido indiano cor de vinho permanecia em pé e imóvel bem atrás de mim. Era incômodo. Eu ia perguntar "oi, o que você deseja?", mas achei que ela era apenas um ser muito apressado como qualquer paulista já foi um dia e deixei quieto. Até que depois de 20 minutos aguardando a troca de dinheiro o rapaz do caixa pediu "espera só mais um pouco que já tá sendo autorizado" e foi a deixa para ela grosseiramente se colocar na minha frente e dizer a ele, ignorando minha presença: "Moço, então, a senha que você chamou foi a minha, então você chama de novo por favor, porque essa mocinha passou na minha frente". Eu virei pra trás e disse sem me enervar ou gaguejar: "Oi. Minha senhora, eu não passei na frente de ninguém, eu fui a primeira a chegar. O rapaz indicou que me dirigisse ao caixa e eu apenas fui, não disse nada sobre a necessidade de pegar uma senha. E deixe de ser deselegante e vá esperar sua vez, por favor". O rapaz que havia me dado a instrução por coincidência apareceu no guichê bem na hora, falou "ela chegou primeiro" e foi embora, ignorando a confusão estabelecida. A senhora, meio sem graça, voltou à cadeira de espera e ficou mais uns 10 minutos reclamando "da mocinha que passou na minha frente" com sua amiga. Me deu vontade de levantar e repetir a história, mas a verdade é que eu me toquei: eu estava errada. Eu não peguei senha, eu fui na senha dela. Mas, ao mesmo tempo, eu estava certa: eu apenas segui a ordem do funcionário da casa de câmbio. O certo e o errado são dois remos da mesma canoa. Não tem observador que os enxergue em movimento igual. Depende da margem de onde se olha.