quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

da Lucinha e da Soninha


Sete tentativas depois, ele saiu. O bolo fofinho de banana, sabor que eu procurei insone fôrma atrás de fôrma durante dez dias. Conforme eu misturava os ingredientes, o cheiro da massa de banana ia alegremente me torturando e eu pensava "esse vai, impossível não dar certo, com esse cheiro...". O que acontecia: a massa pesava, parecia que nem tinha farinha ali, que era só banana.
Tentei duas vezes no domingo, depois mais uma no dia do aniversário dele (essa falha foi a mais dolorida, cantar parabéns com as velinhas em cima de petit gateau de restaurante, por deus).
Dei um tempo, li muitas receitas na internet, pedi ajuda para a fada madrinha da cozinha Márcia.
Fiz bolo de coco, de chocolate e de fubá.
Acalmei? Não. Eu estava obcecada demais pelas bananas para desistir delas.
Fiz mais um. Erro. Mais dois no fim de semana, para os cunhados, imagina se eu falho? Falhei.
E aí eu tive uma ideia muito da genial, só que com uma semana de atraso, de ligar pra bendita boleira da minha infância. Soninha, a cozinheira do sítio da tia Carlota, em Tatuí.
O bolo da Soninha nem chegava à sala, acabava mesmo na cozinha, a gente entrava e ia pegando os pedaços direto do tabuleiro, um seguido do outro. Cada criança devia comer, por cima, uns quatro. Achei que a Soninha não ia saber precisar as medidas, mas qual foi, não só sabia dizer como deu dicas preciosas do tipo "você mede o óleo no copo de requeijão, o açúcar num copo um pouco menor, pro bolo não ficar muito doce" e "mistura bem os líquidos com a farinha e o açúcar, eu bato na mão mas se for preciso usa a batedeira".
Bananas compradas no sacolão, sétima tentativa. Em meu rústico entendimento considerei um bom sinal a massa ter ficado mais melecada, como se de bolinho de chuva. Arrisquei e coloquei umas rodelinhas de banana por cima de tudo. Não tive medo de não dar certo. Afinal, após seis receitas malogradas, o erro perde peso de jaca e ganha peso de amora.
Um bom presságio foi também minha gata bebê Jovelina ter se postado em frente ao fogão e permanecido ali de butuca por alguns minutos. Ela não fez isso com os outros bolos!
Quando enfiei o garfo e vi que o bolo tinha ficado fofinho...foi como ter cruzado a linha de chegada após uma longa maratona.
Descobri ainda que a receita na verdade fora passada para a Soninha pela Lucinha, outra cozinheira maravilhosa da família. Lucinha, uma Jovelina Pérola Negra, me chamava de "calabresa" porque achava que eu era a típica italianinha, ou algo assim. Sorria espremendo os olhos e era um sorriso que confortava a gente. Pensando bem ela é que era uma calabresa, começava as frases com a boca mas sempre as terminava com as mãos!
Ainda não sei direito de onde vem a raiz dessa alegria que eu sinto quando faço bolos, mas sei que como o trigo que hidratei essa semana, está germinando além do meu controle.

2 comentários:

Anônimo disse...

que delícia, que alegria! e essa história de trigo hidratado me lembrou um suco verde de sementes germinadas que eu nunca consegui fazer muito bem. cozinha tem dessas coisas, né?

nana tucci disse...

que coincidência, ontem mesmo uma amiga me falou sobre suco verde! beijo, Tata <3