segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Sexta-feira, 14



Hoje eu vi...

Uma Barbie very hot deixada em cima de extintores de incêndio em uma borracharia

Um alfaiate usando uma pulseira de tomate, daqueles tomates de tecido picados por agulhas

No alfaiate, um velhinho escolhendo o tom de bege de sua nova camisa

e um homem andando de suspensório e sem camisa, com a barrigona saliente.

Uma menina cheirando sabonete de pitanga.

Na loja de cacarecos natalinos, uma mulher dizendo "eu adoro esses Papais Noéis que dançam. Quanto mais maluco, melhor"

Uma velhinha com problema de audição que escutou R$ 49 em vez e R$ 79, e quando recebeu R$ 20 de troco e reclamou, o vendedor japonês agiu com rara cordialidade: "Ah, a senhora entendeu R$ 49? Puxa, me desculpe".

Um casal de velhinhos este da foto, e eu enganei a todos e fotografei de um ângulo como se estivessem caminhando juntos. Na verdade ele está ligeiramente atrás dela, apoiando-se nela como se apoiam no farol os cegos em seus guias. É como naquela frase do Richard Avedon que a gente leu na exposição no Metropolitan de Nova York, "no instante em que você pega a câmera você já começa a mentir - ou a dizer sua própria verdade".

Um jovem senhor fazendo a barba na barbearia do Empanadas, ao meio-dia. Quem faz a barba num dia quente como esse?

...

Eu gosto muito desse clima malemolente de Natal, quando o mundo está se movendo em uma câmera lenta legal.
Isto é, se você também desacelera.
É bom sair a pé com uma desculpa qualquer, "vou mandar ajustar as saias"
E depois eu caminho, às vezes me arrependo porque caminho demais e a volta vai ser quente e longa; às vezes compro bugigangas muito úteis, como a toalha de mesa de abobrinha e berinjela que me custou R$ 10; às vezes paro para comer uma esfiha e céus como está fria.
É sempre bom.
Tenho feito isso em muitas manhãs de dezembro e estou considerando esse o meu maior presente de Natal.

Teve um dia em que dispensei o táxi até a casa da minha avó e fui a pé da Vila Madalena até o Jardim Europa. Passei pela praça que agora vou chamar de Praça dos Pug e que surpresa encontrar ali o seu Mariano, o sorveteiro da minha infância.
"Casou, teve filhos? E o menino, casou?". Fiquei sabendo que o Seu Mariano vende sorvetes há 39 anos; que a praça da vovó, a Morungaba, já não tem mais crianças por isso ficar lá não compensa; e tomei um picolé de coco.

Sei também que, além de fazer esse trajeto mais vezes, não vou mais ir a outro costureiro que não seja o seu Brumatti.
Com as sobras da saia longa branca, ele vai fazer uma borboleta pra eu pendurar no cabelo.
Eu pedi. Ele silenciou e disse: "eu faço, mas só depois do Natal. Primeiro, os ajustes".
Justo, primeiro os ajustes, depois as borboletas.

Há quanto tempo será que o seu Brumatti trabalha na Teodoro Sampaio? Será que depois de um tempo os lugares começam a se adequar a seus inquilinos, e não o contrário? A vista que se tem a partir da janela de seu Brumatti é a de um emaranhando de fios de eletricidade tão bem-alinhavados que a sensação é a de que o ateliê de costura está mais lá fora que lá dentro.


Trilha sonora desse post: Los caminos de la vida, Los Diablitos


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