quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Eu, o francês e Amour


Há aqueles que são capazes de assistir uma aula de matemática e aprender a fazer uma equação só de observar o professor resolvendo uma na lousa. E há aqueles que precisam prestar o dobro de atenção para entender mais ou menos, chegam em casa mais pra menos que pra mais, voltam-se ao caderno de anotações, resolvem dez equações e aí sim, aprendem. Eu sou do segundo time, em quase tudo. Das combinações matemáticas às receitas de bolo, sempre precisei de treino. Com o Francês não foi diferente.
Ficamos um ano, eu e o francês, passando a fala na coxia. Mas, quanto mais a gente treinava, menos a gente se entendia. Comecei a faltar aos ensaios, deixava o Francês me esperando com papel na mão e, quando eu aparecia, brigava com ele. Não entendia o porquê de tanto erre arranhado, "e" com boca de "u", tantas palavras mastigadas pela metade & formalidades. Acho que minha birra com a língua francesa começou lá atrás, quando eu me sentia ridícula tentando ler o nome de pratos e técnicas culinárias. A cada erro, ia crescendo a vergonha (só percebi que a vergonha era uma peculiaridade da nossa relação quando me abri em sala de aula e ninguém engrossou o coro). 
Até que, em janeiro deste ano, livre da pressão do espetáculo final, sem avisar que eu ia voltar a ensaiar, um dia apareci no teatro.
Lá estava ele, igual; lá estava eu, igual. Mas alguma coisa foi diferente.
A cada aula eu me sentia uma patinadora quebrando o gelo da língua. Encaixar os patins na pista e sair deslizando como um trem correndo sobre o trilho certo. Calcular mal uma manobra e cair de bunda no chão gelado. Veredicto: acertar era muito bom, errar era mais engraçado que danoso.
É um mistério, o processo de aprendizagem de um novo idioma.
É preciso entender a língua para aprendê-la, coisa que às vezes pode demorar duas semanas, um mês, um ano ou uma vida toda, peut-être.
Se você não entende, só confronta, vai passar a vida agindo como aqueles cozinheiros que acham que colocar quatro colheres de manteiga numa receita que pede duas não vai fazer mal nenhum, como diz a MFK Fisher no capítulo "Q, de Quantidade" do Alfabeto para Gourmets.
Em se tratando de língua (e de comida), as regras básicas devem ser seguidas antes de poderem ser quebradas. Dá vontade de chegar barbarizando, questionando todos os processos & procedimentos preestabelecidos.
Eu estava "colocando kirsch em vez de marasquino num suflê", como recomendara Escoffier, sem saber o que era um suflê.
Hoje assisti ao meu primeiro filme em francês depois de entender o francês, e ele só podia mesmo ter sido Amour. Não dá pra fugir de certos processos e procedimentos.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

sábado, 2 de fevereiro de 2013

enigma de sábado


Alguém explica por que a minha vela da Harmonia tem cheiro de içá fritando?